Um cantinho para sonhar, desabafar, partilhar, divulgar, voar, sorrir, emocionar...o meu cantinho secreto!

Foto tirada pela girafa antes de se transformar em Nenúfar...na vida real - Lago de Jardim em Mafra.

domingo, 8 de março de 2009

Pó das Estrelas


Imagem retirada de : http://arvoredeperola.wordpress.com/page/25/



Leio o destak quando vou para a minha escola, e descobri as crónicas da Isabel Stilwell, com as quais me tenho deliciado. Penso que a senhora diz umas coisas acertadas e escreve bem (é só apenas a minha opinião!).

Guardei o jornal, onde esta vinha, para, um dia mais tarde, partilhar convosco...

"És pó e em pó te hás-de tornar", diz o padre na cerimónia que abre a quaresma, enquanto, com o polegar mergulhado nas cinzas, desenha uma cruz na testa de quem se aproxima do altar. Desde que me lembro de mim, que gosto deste ritual, da cruz esborratada que por lá ficava um bocadinho, até que a franja ou um gesto desajeitado a fizessem desaparecer. Sempre achei que era um apelo à humildade, hoje percebo que à humildade dos sábios, porque só eles suportam a ideia de voltarem ao pó.

Quando era miúda, a ideia de desaparecer sem deixar rasto não me fazia confusão nenhuma, mas constato agora que não por qualquer grau de santidade, mas apenas porque me parecia uma realidade distante e impossível.

Com a idade, percebi que à medida que envelhecemos lidamos com a progressiva dificuldade com a suspeita de que podemos não deixar marca. Angústia que só se combate, desconfio, se estivermos seguros de que investimos tanto na relação com os outros que permanecermos imortais dentro deles, que é onde a imortalidade importa, desculpem a heresia.

Todas as pessoas que amei e morreram continuam a passear-se alegremente entre os meus neurónios, a brincar às escondidas por cima dos rins e dos pulmões, manifestanso-se em lágrimas conforme lhes apetece. Mas, para que os outros caibam dentro de nós, é preciso espaço, e é esse o desafio deste crédito para obras, a que chamam Quaresma.

Quem andou na catequese lembra-se certamente, de fazer listas de sacrifícios, prazeres de que nos privávamos, na tentativa de nos livrarmos do acessório, para conquistar lugar para o importante. Confesso que me parecia masoquista inventar penas, quando a vida as incluia de sobejo, mas admito que a frustação aguça a capacidade de fazermos uso dos nossos recursos internos. Suspeito que, a fugir de um extremo, caímos no outro: se calhar temos que voltar a trabalhar a resiliência dos nossos filhos.



"Crédito para obras a 40 dias" de Isabel Stilwell in Destak de 26 de Fevereiro 2009

11 comentários:

caditonuno disse...

ai como eu gosto de inventar penas para os meus alunos! é pena nao os poder transformar em pó... ou em picadinho!

Maria Inácio disse...

Mulher...

Que traz beleza e luz aos dias mais difíceis
Que divide sua alma em duas
Para carregar tamanha sensibilidade e força
Que ganha o mundo com sua coragem
Que traz paixão no olhar
Mulher,
Que luta pelos seus ideais,
Que dá a vida pela sua família
Mulher
Que ama incondicionalmente
Que se embeleza, se perfuma
Que vence o cansaço
Mulher,
Que chora e que ri
Mulher que sonha...

Tantas Mulheres, belezas únicas, vivas,
Cheias de mistérios e encanto!
Mulheres que deveriam ser lembradas,
amadas, admiradas todos os dias...



Feliz Dia Internacional da Mulher!

Anónimo disse...

Mas que blog lindo, Girafa! Acrescentei-o à minha lista de blogs.

Eu não sou religiosa, mas sou espiritual e concordo que somos todos feitos de pó, pó de estrelas como dizia o Carl Sagan, embora esta seja uma frase que faça parte de uma filosofia muito mais antiga. Penso que todas as religiões da Terra são apenas uma pequena manifestação desta filosofia.

Claudia

:-)

tsiwari disse...

Geralmente gosto de ler a Isabel Stilwell, já nos tempos da Notícias Magazine e dos seus editoriais.

Gostei da ideia do masoquismo e de a vida nos castiga já sobejamente.

Continua muito bonito o teu cantinho! ;)***

CCF disse...

Há quanto tempo não vinha cá...adorei ver o retrato da mãe de saia cor de rosa :)
~CC~

Filoxera disse...

Beijos femininos.

Branca disse...

Nós, cá em Braga, temos mais facilmente acesso ao Metro, o Destak é raro estarem a oferecer no transito, enfim...
Mas, realmente parecem ser crónicas interessantes...
Acredito que existe sempre espaço para todos no nosso pequeno "corpo", mas esse é um bom desafio para a quaresma, muito mais do especial que a lista de privações insignificantes perante tal grandeza...
Gostei do texto!

Beijinhos
:)

BC disse...

Eu acho que seremos mais qualquer coisa,não seres como na terra mas com uma dimensão maior (não física,claro)mas seremos seres melhores, que olharemos para os outros com outro olhar e tomaremos conta dos outros que cá ficam.__________
Estou a ser muito idealista e muito
poética, acho.__________

Como será????? Fica a interrogação
Beijo
Isabel

Mocho Falante disse...

Ora viva, tomei contacto com a escrita de Isabel Stilwell no seu livro Filipa de Lencastre, e desde aí que fiquei fã.

Grande texto este sim senhor.

Obrigado pela partilha.

beijocas

Fátima André disse...

Excelente texto... dá muito que pensar.

Nenúfar Cor-de-Rosa disse...

Bem ando a ser uma preguiçosa e deixei de "comentar" os vossos comentários, o que não pode ser! Por isso cá vai...

Cadito: às vezes dá vontade de os transformar em picadinho sim:-))!! Mas há que respirar fundo e deixá-los inteirinhos:-)!

Fátima:ora vencer o cansaço é o que tento fazer agora, que já estou com os olhos a piscar:-) é que acordo com as galinhas, belo texto!! Beijinho!

árvoredeperola: que lindo nome este! Todas as religiões são válidas, todas elas vão ter a um objectivo comum, a bondade, a ligação humana, a espiritualidade do mundo..eu também sou mais espiritual que religiosa (cada vez menos ligada a uma religião e mais à espiritualidade). Sinto uma imensidão de coisas que tenho que aprender...vou tentando! Beijinho e obrigada pelos elogios:-)

Tsiwari: obrigada pelo elogio acerca do cantinho! Hoje li outra crónica dela que acho que vou guardar para publicar. Ela escreve mesmo bem! Quanto ao masoquismo, pois acho é disparatado sim, mas as pessoas hoje também têm farturinha a mais. Penso, tal como ela, que se caiu no extremo oposto! Beijinho.

BC: que coisas lindas que escreveste, saliento esta: "mas seremos seres melhores, que olharemos para os outros com outro olhar e tomaremos conta dos outros que cá ficam"...penso assim também. Beijinho.

Branca: ainda bem que gostaste do texto! Também eu acredito que as pessoas permanecem connosco...e muito mais que isso...mas isso era uma longggggaaaaaaa história! Beijinho.

Filoxera: outros para ti também. FIca bem:-)!

Mocho: pois eu acho que estou a ficar fã também:-)! Beijinho.

CCF: pois a minha filhota desenha coisas cor de rosa à mãe sabe-se lá porquê:-)))! Beijinho e gostei imenso de te ver por cá!

Fátima: e é isso que por vezes é preciso...reflectir...beijinho!